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buscamos nitidez nos nossos projectos pastorais (fotografia: Ricardo Correia - Reservados todos os direitos e mais alguns)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Metodologia de discernimento teológico-pastoral: Uma leitura de Sérgio Lanza

A metodologia de discernimento tem de englobar três dimensões fundamentais: a programação dedutiva; programação indutiva e a programação de correlação. A questão que se coloca é qual o peso de cada uma das duas primeiras e qual a melhor forma de as correlacionar. Esta correlação é o momento fundamental e mais importante na teologia pastoral/prática.
A renovação das comunidades cristãs terá de passar, por um lado, pela projectualidade (de forma a englobar a renovação das mentalidades e práticas) e pelo discernimento (que engloba a espiritualidade e a metodologia). Neste discernimento necessário não podemos cair nos extremos da utopia tradicionalista em que apenas o passado conta e se aplica no futuro nem o contrário. Assim, torna-se fundamental a decisão, a utilização dos objectos e dos meios e, se necessária, a improvisação de circunstância.
Os fundamentos de uma teologia prática/pastoral no método de discernimento estão no objecto material e formal da mesma teologia. No primeiro caso a vida de uma comunidade cristã (vida pastoral) e, no segundo caso, a vida eclesial com a sua acção, actuação e projectualidade. Sempre tendo como horizonte a fé da comunidade e da Igreja. O terceiro fundamento e o mais importante é a lei da incarnação. É aqui que se apresenta a discussão na medida em que o necessário é uma relação assimétrica (onde predomina uma, neste caso a fé) entre a referência normativa e o contexto sócio-cultural e antropológico. A fé em Jesus Cristo deve pautar sempre a acção e a prática eclesial, na medida em que Cristo incarnado é o auge, o cume, o encontro já realizado entre o divino e o humano; entre a eternidade e o tempo; entre Deus e o ser humano; entre a fé e a prática.

Tendo em conta estes pressupostos e fundamentos podemos então avançar para a metodologia de discernimento teológico-pastoral. Esta metodologia pressupõe três momentos e três dimensões. Primeiro apresento os momentos e as dimensões e depois a forma como se correlacionam.
Três momentos:
1.       Análise e avaliação (da situação com o olhar da fé)
2.       Decisão e projecção (de uma perspectiva concreta)
3.       Actuação e verificação (deve ser algo concreto e concretizável)
Sendo que o discernimento não é um momento desta metodologia, mas antes uma dimensão que perpassa por ela toda, temos também, e nesta mesma caracterização, as três dimensões que, em discernimento, devem estar presentes em toda a metodologia e sua elaboração:
·         Dimensão kairológica: num ambiente teológico do kairós, pensar a acção da Igreja numa relação constante com a situação.
·         Dimensão criteriológica: os critérios são o cerne de todo o processo que formulam e fundamentam toda a acção e toda a elaboração.
·         Dimensão operativa: sem se tornar apenas teoria, esta dimensão atira-nos para a situação de forma a mudá-la e a melhorá-la.
Como é fácil de constatar, estas três dimensões, apesar de estarem obrigatoriamente presentes nos três momentos predominam, cada uma respectivamente no primeiro, segundo e terceiro momento.
A teologia do discernimento implica sempre uma leitura cristológica da realidade, este Cristo imagem de Deus no meio do ser humano, e sob o influxo do Espírito Santo. Neste sentido, e como nos sugere a Gaudium et Spes, há uma necessidade inequívoca de estarmos atentos aos sinais dos tempos para poder-mos, como Igreja de Cristo, e como ele mesmo fez, ir ao encontro dos anseios do mundo. O discernimento procura compreender, antes de aplicar princípios teológicos que redundam em nada; procura impulsionar a comunhão eclesial e a sua renovação; procura colocar em funcionamento a grande realidade do Corpo Místico de Cristo. Não há teologia prática/pastoral individual ou solitária. Ou se faz e se faça em comunhão ou não será verdadeira teologia prática/pastoral. Para isso, o discernimento deve ter um quadro comunitário de referência. Discernir pode ser, nesta dimensão, sinónimo de conversão à (e para a) humildade, paciência, sabedoria, caridade e testemunho.

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