contraste

contraste
buscamos nitidez nos nossos projectos pastorais (fotografia: Ricardo Correia - Reservados todos os direitos e mais alguns)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nota final (de dois andares a um T2)

Chegamos ao fim deste percurso pelas Metodologias de investigação em Teologia Pastoral, ou ao princípio se for percebida a mensagem que pretendo transmitir nesta nota final. De facto, qualquer de nós que fizemos este percurso de um semestre, temos a consciência da importância desta matéria e das teorias que analisamos e por vezes debatemos. Houve pouco cruzamento dos blogues. Continuo a achar que apenas um para toda a matéria da cadeira era mais lucrativo para todos. No entanto assim obrigou cada um a trabalhar o seu o que também teve vantagens. Mas não é isso que me trás aqui a esta nota final.
Há uma situação que gostaria de ter debatido mais na cadeira. Cheguei a apresentá-la nas aulas mas volto a formulá-la nesta nota final para reflexão e até para debate se alguém se disponibilizar a isso. É que a Igreja, no meu ponto de vista, tem um problema sério. Foi nesse sentido o nome que dei ao blogue no início. Perde-se muito tempo em formulações teóricas e investigação de metodologias. E muito bem. No entanto tenho a sensação que apenas de 50% para baixo é que chegam a concretizar-se e a colocar-se em prática. Falta, provavelmente, um bocadinho mais de confiança na especulação por alguns realizada. Ao mesmo tempo, a especulação é feita, na maioria dos casos, por pensadores que não estão no campo. Quero com isto dizer que neste âmbito não há suficiente ligação entre a teologia e a prática.
Faz lembrar a história dos dois andares. Os teólogos estão no primeiro andar a fazer as suas especulações e os pastores no rés-do-chão. Quando no rés-do-chão surge algum problema manda-se uma carta para o segundo andar para que arranjem uma solução especulativa que se aplique lá em baixo na prática.
Segundo o meu humilde ponto de vista, a teologia prática/pastoral tem de ser mais assertiva. Olhar de frente o problema (actual) e através do discernimento pastoral, procurar resolver o problema o mais depressa possível para que se passa passar a outro. As pesquisas qualitativas sempre vistas como apenas um momento que obedecem à fé e à teologia como subordinadas que dão um contributo importante para o conhecimento daquilo que não se conhece.
Como exemplo, podíamos pegar nesta questão importante do corte do apoio às escolas privadas por parte do Estado. O problema que se apresenta é que estamos a perder terreno na evangelização. A pesquisa qualitativa podia aqui apresentar-nos os dados das escolas existentes, da eficácia que teria a evangelização nesses escolas e o impacto que vão sofrer com estas medidas. Como forma de rezar a questão partimos do mandato evangélico da evangelização como cerne da acção fundamental da Igreja. A partir daqui, procurar alternativas para a resolução de um problema tão importante. Essa resolução podia passar por tentativa de diálogo com o governo; com a mobilização de cristãos (petições, manifestações, etc.) se estas não forem viáveis, procurar então alternativas de evangelização. É que a pastoral não é assertiva. É muito lenta. As medidas já avançaram e a Igreja pouco se mobilizou sobre este assunto. É assim, e por causa disso, que aos poucos vamos perdendo várias batalhas para a secularização e para a laicidade da vida dos portugueses. E isso vamos pagar muito caro com o passar dos anos.
Espero ter logrado os objectivos desta cadeira. Agradeço a todos os colegas pelo trabalho conjunto e pela convivência sadia nas aulas. E agradeço ao docente pela forma inovadora como foi leccionada esta Unidade Curricular.
Um Abraço a todos e até uma próxima oportunidade.

Ricardo Correia

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Metodologia de discernimento teológico-pastoral: Uma leitura de Sérgio Lanza

A metodologia de discernimento tem de englobar três dimensões fundamentais: a programação dedutiva; programação indutiva e a programação de correlação. A questão que se coloca é qual o peso de cada uma das duas primeiras e qual a melhor forma de as correlacionar. Esta correlação é o momento fundamental e mais importante na teologia pastoral/prática.
A renovação das comunidades cristãs terá de passar, por um lado, pela projectualidade (de forma a englobar a renovação das mentalidades e práticas) e pelo discernimento (que engloba a espiritualidade e a metodologia). Neste discernimento necessário não podemos cair nos extremos da utopia tradicionalista em que apenas o passado conta e se aplica no futuro nem o contrário. Assim, torna-se fundamental a decisão, a utilização dos objectos e dos meios e, se necessária, a improvisação de circunstância.
Os fundamentos de uma teologia prática/pastoral no método de discernimento estão no objecto material e formal da mesma teologia. No primeiro caso a vida de uma comunidade cristã (vida pastoral) e, no segundo caso, a vida eclesial com a sua acção, actuação e projectualidade. Sempre tendo como horizonte a fé da comunidade e da Igreja. O terceiro fundamento e o mais importante é a lei da incarnação. É aqui que se apresenta a discussão na medida em que o necessário é uma relação assimétrica (onde predomina uma, neste caso a fé) entre a referência normativa e o contexto sócio-cultural e antropológico. A fé em Jesus Cristo deve pautar sempre a acção e a prática eclesial, na medida em que Cristo incarnado é o auge, o cume, o encontro já realizado entre o divino e o humano; entre a eternidade e o tempo; entre Deus e o ser humano; entre a fé e a prática.

Tendo em conta estes pressupostos e fundamentos podemos então avançar para a metodologia de discernimento teológico-pastoral. Esta metodologia pressupõe três momentos e três dimensões. Primeiro apresento os momentos e as dimensões e depois a forma como se correlacionam.
Três momentos:
1.       Análise e avaliação (da situação com o olhar da fé)
2.       Decisão e projecção (de uma perspectiva concreta)
3.       Actuação e verificação (deve ser algo concreto e concretizável)
Sendo que o discernimento não é um momento desta metodologia, mas antes uma dimensão que perpassa por ela toda, temos também, e nesta mesma caracterização, as três dimensões que, em discernimento, devem estar presentes em toda a metodologia e sua elaboração:
·         Dimensão kairológica: num ambiente teológico do kairós, pensar a acção da Igreja numa relação constante com a situação.
·         Dimensão criteriológica: os critérios são o cerne de todo o processo que formulam e fundamentam toda a acção e toda a elaboração.
·         Dimensão operativa: sem se tornar apenas teoria, esta dimensão atira-nos para a situação de forma a mudá-la e a melhorá-la.
Como é fácil de constatar, estas três dimensões, apesar de estarem obrigatoriamente presentes nos três momentos predominam, cada uma respectivamente no primeiro, segundo e terceiro momento.
A teologia do discernimento implica sempre uma leitura cristológica da realidade, este Cristo imagem de Deus no meio do ser humano, e sob o influxo do Espírito Santo. Neste sentido, e como nos sugere a Gaudium et Spes, há uma necessidade inequívoca de estarmos atentos aos sinais dos tempos para poder-mos, como Igreja de Cristo, e como ele mesmo fez, ir ao encontro dos anseios do mundo. O discernimento procura compreender, antes de aplicar princípios teológicos que redundam em nada; procura impulsionar a comunhão eclesial e a sua renovação; procura colocar em funcionamento a grande realidade do Corpo Místico de Cristo. Não há teologia prática/pastoral individual ou solitária. Ou se faz e se faça em comunhão ou não será verdadeira teologia prática/pastoral. Para isso, o discernimento deve ter um quadro comunitário de referência. Discernir pode ser, nesta dimensão, sinónimo de conversão à (e para a) humildade, paciência, sabedoria, caridade e testemunho.

Teologia prática versus pesquisa qualitativa

Um dos problemas com que se depara a teologia pastoral/prática nos vários métodos ou metodologias, especialmente a partir da correlação, é a (im)possibilidade de conjugação entre o método (metodologia) de teologia prática e a pesquisa qualitativa. Como chegar à verdade, tendo em conta a revelação, ou como podem as pesquisas qualitativas chegar à teologia?
Recorremos à formulação e ajuda dos autores John Swinton and Herriet Mowat.
Em primeiro lugar fazem uma distinção fundamental, na qual reside a solução para esta problemática, entre método e metodologia. Uma metodologia é uma visão global de um caminho para chegar à meta. Já um método é uma visão mais concreta ou um momento da metodologia. Assim, uma metodologia pode ter vários métodos.
Neste sentido, os métodos da pesquisa qualitativa são um momento da teologia prática e da sua metodologia. É aqui que entra em vigor a correlação numa junção dos dados existenciais e teológicos.
A correlação privilegia sempre a revelação e a fé, no entanto tem a necessidade das impressões recolhidas pelas pesquisas qualitativas sobre um mundo que não conhece na sua totalidade. Com Sérgio Lanza temos a oportunidade de melhor reflectir sobre esta metodologia da correlação.